O apoio analitico a decisao na gestao do conhecimento.

AuthorCataldo, Jorge Luiz
PositionADMINISTRACI

Metodologia

Este artigo é baseado no estudo feito em 2002 por ocasião da elaborando da dissertaçao para a obtenido do título de mestre pelo Programa de Pós-Graduação e Pesquisa era Administração e Economía das Faculdades Ibmec-Rio.

A seção inicial é um enquadramento estratégico da questão, cada vez mais atual, de como tratar o "conhecimento organizacional". A seção seguinte apresenta as conclusões da pesquisa survey realizada para definir as fronteiras do estudo do suporte analítico á tomada de decisão.

Produzindo Conhecimento Estratégico

Parece claro que só devemos nos preocupar era gerenciar os recursos escassos, uma vez que não é uma boa idéia alocar investimentos na gestão de recursos que não sejam fatores limitantes de qualquer processo. Uma frase atribuída a Barnard ilustra bem essa questão: "Se quisermos elevar o rendímento de cereais era determinado campo e a análise mostra que o solo carece de potássio, pode-se dizer então que este é o fator estratégico ou limitante" (apud Ghemawat, 1999). De fato, a intensa relação que existe entre o planejamento de ações estratégicas e a escassez de recursos pode ser comprovada de diversas formas.

Por si só, a preocupação em estabelecer uma "gestão para o conhecimento" já é uma declaração tácita de reconhecimento da escassez e da importância estratégica desse recurso. Essa importância vem sendo cada vez mais comprovada, como, por exemplo, na pesquisa que a consultoria McKinsey realizou em 40 empresas de diversos setores na Europa, no Japão e nos Estados Unidos (Hauschild et al., 2001). Os resultados apontam uma correlação bastante clara entre o sucesso de algumas dessas companhias e a adoção de técnicas de gestão do conhecimento. Além disso, nessa mesma pesquisa, é possível perceber que os executivos seniores convergem na crença de que o conhecimento --ou o que se convencionou chamar assim-- é, hoje, um recurso genericamente escasso e que deve ser considerado na formulação do posicionamento competitivo das empresas.

Mas quais foram os fatores que alçaram o conhecimento a essa condição?

As seções a seguir apresentam brevemente esses fatores, passando a em seguida à análise das técnicas de produção de conhecimento.

Choque de Demanda por Conhecimento

Partindo de um mercado era equilíbrio, um recurso pode se apresentar momentaneamente escasso por dois motivos: uma redução da oferta ou um aumento da demanda. Esse segundo caso parece ser o que acontece atualmente com o conhecimento.

Indicadores de toda natureza nos mostram que as relações econômicas a partir da década de 90 vêm sendo mudadas por um brutal choque de demanda (OCDE Economics Surveys, 1998). Na última década, principalmente, o conhecimento passou a ser demandado em uma quantidade nunca vista na história. Não o conhecimento científico puro, mas uma outra forma de conhecimento. O conhecimento sobre o mercado, a concorrência, a produção e tudo mais que possa agregar diferenciação aos bens que circulam na economia.

Não é possível precisar quando se iniciou esse movimento. Na verdade, o que houve foi uma conjunção de vários fatores ao longo de aproximadamente duas décadas. Pragmaticamente, é possível afirmar que, hoje, vemos as empresas buscarem o conhecimento porque ele é o principal recurso que das precisam para rugir do que podemos chamar de "armadilha da comoditização" (Peppers et al., 2001).

A comoditização dos bens tangíveis transacionados na economia é um processo com causas ainda em estudo, mas com conseqüências evidentes no nosso dia-a-dia. Uma combinação de excesso de oferta tecnológica e financeira com um aumento brutal na produtividade das empresas rem derrubando, notadamente, os pregos e as margens praticadas pelos agentes de toda a economia mundial. Em uma interpretação bastante simplificada do fenômeno, podemos pensar que tudo se passa como se a capacidade de produção dos bens que fabricamos estivesse ao alcance de todos os agentes econômicos do globo (Pettis, 2001).

Em uma visão financeira do fenômeno, uma explicação para a comoditização atual dos bens aparece no estudo dos movimentos de expansão e contração apresentados freqüentemente pela economia mundial em ciclos que convencionamos chamar de ciclos de globalização. Motivados por súbitos aumentos de liquidez nos centros financeiros mundiais e, em seguida, impulsionados pelo surgimento de um conjunto de inovações tecnológicas, esses ciclos produzem, inicialmente, uma formidável expansão do comércio e dos investimentos internacionais. Foi assim nos ciclos que se iniciaram, mais ou menos, era 1820, 1860, 1880, 1920, 1960 e, por último, era 1980 (Pettis, op. cit.).

Apesar do entusiasmo pela ciencia e pela tecnologia que acompanha todos esses ciclos, Pettis (op. cit.) acredita que é principalmente o comércio que impulsiona os ciclos de globalização. A cada novo surto, o mundo parece encolher um pouco mais graças ao progresso admirável obtido nos meios de transporte e nas comunicações. Entretanto, a efetiva integração mundial se dá, principalmente, por uma impressionante difusão do comércio, e, como conseqüência, por uma disponibilidade praticamente ilimitada de investimentos e de bens de consumo. Segundo Pettis, estaria aí a raiz da atual "comoditização" dos bens.

Mudança de Paradigma Econômico

A visão mais estruturalista dos economistas argumenta que, na verdade, a cada novo ciclo, estañamos trocando um paradigma tecno-econômico (PTE) esgotado por um outro mais flexível. Esse sim, capaz de contornar as barreiras ao crescimento da economía mundial. Cada novo PTE traz novas combinações de vantagens políticas, sociais, econômicas e técnicas, tornando-se o estilo dominante durante uma longa fase de crescimento e de desenvolvimento econômico (Lastres e Ferraz, 1999).

Parece não haver dúvidas de que estamos passando pelo período de expansão de mais um desses ciclos de globalização. Estañamos, mais precisamente, abandonando o paradigma fordista, que a partir dos anos 70 comeqou a dar mostras de rigidez e esgotamento. Já nessa época as crises do petróleo e de várias outras matérias-primas expuseram claramente a vulnerabilidade desse paradigma, evidenciando ser insustentável um modelo de desenvolvimento baseado na produção em massa de bens e serviços com uso intensivo de materiais e energia.

Nesse novo paradigma, a informação, o conhecimento e o aprendizado, por suas características, são alguns dos conceitos fundamentais que precisamos dominar para explicar essa nova lógica econômica. O fator-chave passa ser a tecnologia digital, como já foram o petróleo, o aço, o carvão, o algodão e o ferro fundido, em outros paradigmas anteriores (Lastres e Ferraz, op. cit.).

Esse é o ponto central de toda a questão. Ocorre que, pela primeira vez ao longo de toda a história das civilizações economicamente organizadas, o fator-chave ou o recurso escasso limitante não é mais tangível. Diante dessa importante mudança, o mundo se viu obrigado a urna revisão de todos os conceitos, até entró válidos, de criação e acumulação de riqueza. Tofler (1991) talvez tenha sido um dos pioneiros a compreender que essas mudanças são de tal forma radicais que, mais do que uma mudança de paradigma, estaríamos também vivendo a transição para uma nova era econômica.

Uma Nova Ordem Económica Mundial

Os estudos pioneiros de Sveiby sobre ativos intangíveis, na segunda metade da década de 80 (apud Sveiby, 1997; apud Edvinson and Malone, 1997), e os artigos de Stewart (1994; 1997) sobre o brainpower, no início da década de 90 --que viriam mais tarde dar origem ao termo capital intelectual--, buscaram deixar claro que cada vez mais os ativos capazes de produzir fluxo financeiro para as organizações não estariam listados em seus balanços patrimoniais.

Seria isso apenas urna característica de algumas empresas ou uma tendência de toda a economia?

Em seus estudos, Drucker (1993) defendeu que essa era uma tendencia, sim, e que era pouco tempo toda economía estaria em uma nova era, na qual os recursos escassos seriam, de alguma forma, baseados no ativo intangível mais importante que os indivíduos e as organizações poderiam deter: o conhecimento.

Referindo-se à capacidade cognitiva dos indivíduos de transformar informação em conhecimento, Drucker sustenta que a única maneira de uma empresa competir em um mundo onde todos têm acesso aos mesmos recursos, inclusive tecnologia e informação, é fazer individuos, que são pessoas comuns, produzirem resultados extraordinários (Drucker, op. cit.).

Reconhecendo a capacidade humana como única capaz de produzir conhecimento, ele antecipou um novo modelo de administração centrado nos trabalhadores do conhecimento. Esses trabalhadores seriam responsáveis por produzir conhecimento e agregá-lo aos bens produzidos como forma de diferenciá-los no mercado. Desta forma, antecipou a importancia que os bens intangíveis e que os componentes intangíveis dos bens tangíveis, viriam a representar para a economia mundial. E ainda nos legou a fórmula para se livrar da armadilha da comoditização: agregar conhecimento aos bens.

Em 1996, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), iniciou a publição de uma série de relatórios que, de certa forma, ratificaram as idéias de Drucker. Como em uma espécie de coroamento à sua extraordinária visão, reconheceram e definiram a Economia do Conhecimento como: "Uma economia ondea criaçao e o uso do conhecimento é são o aspecto central das decisões e do crescimento econômico" (OCDE, 1998).

Conhecimento-Recurso vs. Conhecimento-Processo

Os primeiros estudos a reconhecerem a importancia do conhecimento nas relações econômicas são relativamente muito recentes. Surgiram, em meados do século XX, nas teorias de Marshall, Schumpeter e Penrose (apud Nonaka e Takeuchi, 1995). Mas foi Hayek o primeiro a chamar a atenção para a importância do conhecimento implícito ou conhecimento das circunstancias --específico ao contexto-- e diferenciá-lo do conhecimento científico (apud Nonaka e Takeuchi, 1995). Segundo Hayek (1945), o...

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